Projeto Pastoral


INTRODUÇÃO

O Externato Nossa Senhora do Rosário, escola católica de identidade salesiana, tem no âmbito pastoral o coração da sua missão educativa, tendo como fundamento o testemunho dos seus santos fundadores, D. Bosco e Madre Mazzarello.

O nosso projeto pastoral permite-nos, com a presença frutificante da espiritualidade salesiana, aprofundar este sentido educativo e, assim, ir ao encontro dos jovens e ajudá-los a crescer de uma forma integral. Neste processo de crescimento, a espiritualidade salesiana valoriza muito os momentos celebrativos, litúrgicos e de festa.

O tema proposto pela Pastoral Juvenil Salesiana para 2024-25, intitulado “Confia! Avançamos na Esperança”, é um claro desafio, perante todas as dificuldades, a confiar em Jesus, fonte de uma esperança que nos impulsiona a caminhar para o futuro.

Decorrente do acima exposto, elegemos seis princípios orientadores para a ação pastoral no ENSR:

1.º Procura de Deus, pois toda a pessoa é naturalmente aberta ao transcendente.

2.º Abertura a conhecer Jesus.

3.º Proximidade entre Alunos, Educadores, Comunidade Religiosa e Famílias.

4.º Formação integral “Bons cristãos e honestos cidadãos”, como caminho para a Felicidade.

5.º Pastoral das Famílias, a base da educação dos nossos jovens.

6.º Saída ao encontro dos mais vulneráveis.

  1. O Tema “Avançamos no sonho”

O tema pastoral, complementando o do último ano letivo, focado na figura de Maria que nos guia para Jesus, desafia-nos a confiar n`Aquele para quem Maria orienta o nosso olhar. Enquadrado no Jubileu de 2025, “Confia! Avançamos na Esperança” é, num mundo cheio de incertezas e desafios, um convite a confiarmos n`Aquele que é a fonte da esperança, aquela que nos estimula a caminhar, não com menos dificuldades, mas, com um maior ânimo e confiança, na certeza de que Deus está sempre connosco.

O Sonho da Pastorinha, tido por Dom Bosco, concretiza a transformação dos cordeiros em lobos, símbolo da missão que é dada a cada um, num caminho de confiança em Deus, nos outros e em nós. Quando, como individualidade em comunidade, arriscamos e aceitamos o convite de confiamos em Jesus, descobrimos que Ele está presente no mais profundo de nós mesmos e é a luz que nos guia para acolhermos o convite do Papa Francisco e vivermos como peregrinos da esperança.

  1. Logótipo

Dando continuidade visual ao tema do ano passado, no logótipo deste ano Jesus assume um lugar de destaque. Jesus aponta o caminho ao jovem que se encontra ao seu lado, numa profunda relação de confiança e orientação- central na pedagogia salesiana.

No centro do logótipo, observamos uma ovelha e um pastor. Somos convidados a uma transformação pessoal e espiritual, assumindo o papel de pastor, que acolhe e guia os jovens, com amor e esperança.

Encontramos, ainda, na parte superior, três estrelas que acrescentam um elemento de orientação divina e inspiração, reforçando a mensagem de esperança e confiança. O verde foi escolhido por representar a esperança, o crescimento e a renovação. Esta escolha cromática evoca e reforça sentimentos de vitalidade e renovação espiritual e comunitária.

  1. Dimensões do Tema Pastoral

O projeto pastoral expressa-se em três dimensões: espiritual, relacional e pessoal.

  • Dimensão Espiritual

“…nós os que procurámos refúgio n’Ele, agarramo-nos à esperança proposta. Nessa esperança temos como que uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior do véu onde Jesus entrou como nosso precursor, tornando-se Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.” (Heb 6, 18b-20)

A esperança em que acreditamos

A visão bíblica da Esperança é vista como a capacidade de ir além de todas as dificuldades que o viver traz consigo[1]. Abraão é o representante máximo desta visão, enaltecido até no novo testamento por São Paulo (cf. Rom 4) ou pelo autor da Carta aos Hebreus (cf. Heb 11, 8-10). Ele é o que espera contra toda a esperança (cf. Rom 4, 18) e confia para além da razão humana, que o impediria de acreditar em tudo o que lhe foi prometido. Esta é a verdadeira esperança segundo a sabedoria bíblica: acreditar que podemos alcançar o que está para além do que podemos imaginar[2]. Jesus encarna-o na perfeição e é a maior testemunha.

Jesus é a nossa esperança!

Papa Francisco decidiu dedicar exatamente à Esperança o Jubileu da Encarnação de 2025 trazendo esta virtude, muitas vezes esquecida, para o centro da reflexão da Igreja. A esperança não engana é o título da bula que proclama o Ano Santo, texto este que deve ser lido e meditado para se compreender em profundidade o sentido da esperança cristã.

A esperança cristã está enraizada em Jesus, tal como atesta São Paulo ao dizer que em “Cristo em vós, esperança da glória” (Col 1, 27).  A presença de Cristo na vida de cada crente é o mistério pleno e total que Deus quis revelar, e é esta a fonte e o objeto da esperança.

Todos podem esperar, mas é o conteúdo da esperança que qualifica o ato e o faz ser entendido como diferente do sentimento ou da utopia. A esperança cristã não surge no momento da necessidade, do sofrimento ou do desânimo, determinada por motivações diversas; se assim fosse, não se distinguiria do sentimento genérico ou do desejo de se agarrar a algo como solução extrema para o mal. A esperança cristã, pelo contrário, tem a fé e a caridade como companheiras de viagem que nunca a abandonam. Ela nasce da fé e alimenta-se do amor. Sem esta circularidade, não seria possível compreender a especificidade da esperança crente que vive da certeza e não da desilusão.

Sendo uma certeza do cumprimento da promessa de Deus, a esperança cristã não desilude porque está “enraizada no amor” (Rom 5, 5) e nunca pode ser separada do amor: “Quem nos separará do amor de Cristo? Talvez a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, em virtude daquele que nos amou.” (Rom 8, 35-39).

Avançar na Esperança, neste sentido, bíblico e eclesial, é então confiar decisivamente que Jesus dá sentido a tudo o que somos e fazemos. A esperança introduz-nos assim na dinâmica da confiança cristã, que não é uma simples fezada de que vai ficar tudo bem, mas sim de que a “vida que agora vivemos tem um destino que é também o caminho a percorrer: Jesus Cristo”[3]! É esta a esperança que celebramos este ano e na qual queremos avançar decididos!

  • Dimensão Relacional

A pessoa humana é um ser intrinsecamente em relação. Podemos dizer que cada um de nós se relaciona a partir do seu corpo, diferente do dos outros, envia mensagens internas também diferentes: bem-estar, mau estar, alegria, tristeza, angústia, bom humor, mau humor. Cada pessoa possui recursos internos e disponibilidade psíquica diferente. Estas afirmações levam-nos a entender a complexidade do ser humano, do individuo. E é perante esta complexidade que afirmamos: o sistema relacional sofre uma constante evolução desde o momento em que somos gerados, desde a relação no seio materno.

Toda a vida humana é fruto de um processo contínuo de aprendizagem, também na dinâmica relacional. O encontro com o outro é precedente a toda e qualquer teoria, porque é nesse encontro que surge a leitura do mundo, a abertura ao Transcendente e o (re)conhecimento do distinto.

A pessoa humana experimenta-se como uma criatura limitada, mas transcende para uma vida superior. Nesta abertura, a pessoa tem a possibilidade de se encontrar no mais profundo da sua interioridade e, progressivamente, descobrir as suas características pessoais através da relação com a alteridade, na qual a pessoa tem consciência de que o outro é diferente e o reconhecimento da diferença conduz à harmonia na relação humana.

No entanto, como somos inevitavelmente diferentes, podemos dizer que as relações humanas não estão isentas de divergências e conflitos. A experiência que diariamente fazemos destas realidades comprovam que a dimensão relacional da pessoa contém em si momentos de tensão. Por isso, do ponto de vista educativo, como educadores, é necessário crescer na consciência que o novo humanismo se enraíza na fraternidade e na solidariedade universais que brotam da caridade, do amor, da esperança e da confiança, expressões dos binómios que devem estar sempre presentes na ação e relação humana: amor e dom; gratuidade e reciprocidade; responsabilidade e fraternidade.

A educação é um bem relacional de grande importância, uma realidade ancorada na relação humana, ponto de partida de todo o percurso evolutivo. Um percurso que não exclui os valores que fundamentam o futuro da pessoa adulta nem a relação com o educador, que se consubstancia numa realidade complexa, porque tocamos neste percurso em fatores pessoais, individuais, ambientais e, na experiência educativa, nas suas dimensões pedagógicas, espirituais, pastorais e comunicativas.

Um dos segredos do sucesso educativo de São João Bosco consiste, sem dúvida, na sua excecional capacidade de relação humana na abertura à realidade dos jovens e atento às mudanças do seu tempo e às necessidades das novas gerações. O mesmo educador, homem de ação, concreto e prático, intuiu que a educação é uma vocação que inspira e transforma toda a existência. Alguns traços da sua personalidade dão toque inconfundível ao sistema preventivo, na qual o seu princípio metodológico, que o torna «artista da educação», é o binómio amor-amabilidade. Este binómio consiste na construção da confiança, familiaridade e amizade, através da proximidade.

Neste sentido, é sugestiva a passagem do Sonho da Pastora (1844) em que D. Bosco diz: “Naquela hora apareceram alguns pastorinhos para os guiar, mas eles permaneciam pouco e logo se afastavam. Então deu-se uma maravilha: muitos cordeiros transformaram-se em pastorinhos que se dividiram, indo para outros lugares para reunir outros estranhos animais e guiá-los para outros apriscos”.

À semelhança de D. Bosco, também Maria Domingas Mazzarello, tocada pelo Espírito Santo, teve a experiência de uma visão profética: “parecia-lhe estar diante de uma grande casa, com aparência exterior de um colégio onde se encontrava um grande número de meninas. Parou e disse consigo mesma: o que vejo? Neste lugar nunca esteve uma casa como esta! O que acontece? E sentiu uma voz que lhe dizia: a ti as confio!”.

Unida à dimensão relacional, a esperança e a confiança são expressão da autenticidade da relação humana e da relação educativa. Uma Pessoa sem esperança é como um navegador sem leme. Cada Pessoa deve trabalhar na construção do outro com determinação e sentido de responsabilidade.

  • Dimensão Pessoal

O Sonho da Pastora oferece-nos uma metáfora poderosa sobre a experiência diária da educação salesiana, onde a missão de educar, cuidar e transformar a vida dos jovens é repleta de dificuldades, mas também de enormes conquistas. As nossas casas são laboratórios de transformação de vida. Somos conscientes que vidas são tocadas e transformadas. A educação é um sonho que muda e transforma. A cada um de nós cabe essa missão extraordinária e santa. Dizia Dom Bosco “A formação da juventude é a obra mais nobre e elevada que se pode pensar e realizar.”

O caos inicial do sonho, onde São João Bosco descreve uma multitude de lobos, cordeiros, ovelhas, cães e aves, representa a diversidade de jovens que encontramos diariamente, cada um com as suas histórias, desafios e problemas.

Na sua mensagem para o Jubileu de 2025, o Papa Francisco destacou a importância de “renovar a esperança num mundo onde muitas vezes prevalece a desesperança”. Na verdade, “a esperança é aquela virtude que nos coloca a caminho, dá-nos asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem insuperáveis” (Papa Francisco).

No sonho de São João Bosco, a aparição de Nossa Senhora, vestida como uma pastora, traz consigo uma mensagem de esperança. Quando este sente medo e deseja fugir, é o sinal da pastora que o encoraja a seguir em frente, oferecendo-lhe uma visão de transformação e redenção.

Nossa Senhora representa a esperança de que, independentemente da confusão inicial, é possível alcançar a paz e a harmonia através da fé e da perseverança. A sua presença tranquilizadora e o seu convite são uma lembrança constante de que, mesmo nas situações mais difíceis, há uma esperança guiada pela mão amorosa de Maria, apenas temos de confiar e nos confiar a Ela.

O Papa Francisco, num dos seus Angelus semanais, refletiu sobre a parábola dos talentos do Evangelho de Mateus, para destacar as duas formas diferentes de nos aproximarmos de Deus, uma baseada no medo e outra na confiança. Esta escolha binária apresenta-nos uma encruzilhada, argumentou o Papa. Mas na caracterização da confiança inabalável no Senhor, o Papa observou que, embora existam riscos e receios quanto à incerteza do que pode acontecer, a confiança dá liberdade para agir reforçando que “muito do modo como investimos os nossos talentos, depende da nossa confiança no Senhor, que liberta o nosso coração, torna-nos ativos e criativos no bem. A confiança liberta, o medo paralisa. O medo bloqueia, a confiança desbloqueia as nossas habilidades e alegra o coração do Pai, que se alegra ao ver os seus filhos que não o temem, mas que o amam”.

São João Bosco confiou na vida e nos sonhos. Ele disse: “Sem confiança e amor não pode haver uma boa educação.” Ou como disse a Dom Rua quando este foi enviado como diretor: “Procura/Esforça-te para que sejas mais amado que temido. A pedagogia salesiana privilegia a confiança para que tudo possa ser transformador. É um caminho pessoal que enche de vida e esperança.

Retomando o Sonho da Pastora, apercebemo-nos de que Nossa Senhora lidera São João Bosco e o rebanho de animais através de várias paragens, cada uma marcando uma etapa de transformação. A sua liderança é clara e decisiva, guiando com autoridade e cuidado. A transformação dos animais em cordeiros, especialmente durante as paragens, ilustra o poder da liderança compassiva e orientadora, uma liderança ao serviço, e reflete a transformação que, tal como São João Bosco, queremos que os nossos jovens sejam virtuosos e pacíficos.

Cada paragem transformadora pode também representar as etapas no desenvolvimento da relação com os nossos jovens: a criação de um ambiente acolhedor, a construção de relações de confiança e a implementação de atividades educativas e evangelizadoras que promovam o crescimento pessoal e espiritual. A transformação dos jovens, embora gradual, torna-se visível com o tempo, reforçando a importância de perseverar e acreditar no potencial de cada um.

No sonho, a visão final de um campo fértil e de uma majestosa igreja com música celestial é uma lembrança do propósito último do nosso trabalho: criar um ambiente onde os jovens possam prosperar em todas as dimensões – intelectual, moral, espiritual e social. A frase hic domus mea, inde gloria mea reforça a ideia de que este nosso trabalho é realizado para a glória de Deus, e que o bem-estar dos jovens é o testemunho vivo desta glória.

Assim como São João Bosco foi guiado por uma visão e pela fé, que também todos nós sejamos inspirados a seguir em frente, confiantes de que estamos a ajudar a construir uma comunidade mais justa, amorosa e cheia de esperança.

 

3.4. Conclusão

O lema, “Confia, avançamos na esperança”, convida-nos a refletir sobre a centralidade de Jesus na vida de cada pessoa e a importância da confiança. Este lema é especialmente relevante num ano jubilar que nos enche de esperança e vida, lembrando-nos que em Jesus se esclarece verdadeiramente todo o mistério de cada ser humano (GS 22). É um apelo para redescobrir e reforçar a nossa fé e a confiança em Cristo, que é o fundamento de toda a nossa missão educativo-pastoral.

A Centralidade de Jesus na Vida de Cada Pessoa

Num mundo frequentemente marcado por incertezas e desafios, a confiança em Jesus torna-se um farol que guia e ilumina o caminho. No contexto educativo, isto significa ajudar os jovens a desenvolverem uma fé sólida e uma confiança inabalável em Cristo. A nossa missão é mostrar que, com Jesus, é possível superar qualquer obstáculo e encontrar um propósito maior para a vida.

O ano jubilar oferece uma oportunidade única para renovar esta confiança. Celebrar um jubileu é reconhecer a presença constante de Deus na nossa história, é tempo de graça e de renovação espiritual. Este ano, somos chamados a refletir sobre como a centralidade de Jesus pode transformar não apenas as nossas vidas individuais, mas também as nossas comunidades educativas. Este ano conheçamos mais Jesus, a sua vida, o seu Evangelho.

A Confiança na Pedagogia Salesiana

A pedagogia de Dom Bosco é um testemunho vivo de como a confiança em Jesus pode transformar vidas. Ele dizia: “Sem confiança e amor não pode haver uma boa educação.” Esta confiança é bidimensional: envolve tanto a confiança do educador em Jesus como a confiança do jovem no educador. Dom Bosco ensinava que os jovens precisam de se sentir amados e seguros.

No sistema preventivo de Dom Bosco, a confiança é cultivada através de uma presença constante e amorosa. O educador salesiano está sempre presente, guiando com paciência e carinho, espelhando a presença amorosa de Jesus. Este modelo de educação requer uma fé ativa e uma vida espiritual vibrante, onde o educador procura ser um reflexo da bondade e da misericórdia de Cristo.

Jesus, Fonte de Esperança e Vida

No espírito do jubileu, somos convidados a renovar a nossa esperança em Jesus, reconhecendo que Ele é a fonte de toda a vida e alegria. A nossa missão pastoral deve inspirar os jovens a encontrar em Cristo a razão para viver com esperança, mesmo diante das adversidades. A frase do Papa Francisco, na qual destaca a importância da renovação da “esperança num mundo onde muitas vezes prevalece a desesperança”, ressoa profundamente com o nosso lema anual. A confiança em Jesus dá-nos asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem insuperáveis.

  1. Opções de fundo da Pastoral para 2024-2025:
  • Escutar os jovens e favorecer o protagonismo juvenil nas comunidades educativo-pastorais.
  • Formar a Comunidade Educativa dos pontos de vista cristão e espiritual.
  • Celebrar a fé – Eucaristia, Celebração e Sacramento da Confissão.
  • Potenciar a dimensão do viver para os outros, no serviço.
  • Dinamizar gestos de solidariedade na atenção preferencial pelos mais pobres e marginalizados.
  • Cuidar e a valorizar a Família, envolvendo-a nas atividades de cariz Pastoral.
  • Cuidar a Casa Comum e da fraternidade universal.