Projeto Pastoral


O Externato Nossa Senhora do Rosário, sendo uma escola católica de identidade salesiana, considera a sua função pastoral de particular importância na missão educativa, tendo como fundamento o testemunho dos seus santos fundadores, D. Bosco e Madre Mazzarello.

O nosso projeto pastoral permite-nos, com a presença frutificante da espiritualidade salesiana, aprofundar este sentido educativo e, assim, ir ao encontro dos jovens e ajudá-los a crescer de uma forma integral. Neste processo de crescimento, a espiritualidade salesiana valoriza muito os momentos celebrativos, litúrgicos e de festa.

O tema proposto pela Pastoral Juvenil Salesiana para 2023-24, intitulado “Avançamos no Sonho”, é uma proposta de partir em missão, seguindo o exemplo de Dom Bosco que, há 200 anos, quando tinha nove anos, teve um sonho que marcou toda a sua vida e missão.

Decorrente do acima exposto, elegemos seis princípios orientadores para a ação pastoral no ENSR:

  1. Procura de Deus, pois toda a pessoa é naturalmente aberta ao transcendente.
  2. Abertura a conhecer Jesus.
  3. Proximidade entre Alunos, Educadores, Comunidade Religiosa e Famílias.
  4. Formação integral “Bons cristãos e honestos cidadãos”, como caminho para a Felicidade.
  5. Pastoral das Famílias, a base da educação dos nossos jovens.
  6. Saída ao encontro dos mais vulneráveis.

 

I. O Tema “Avançamos no sonho”

O tema pastoral remete para o sonho dos nove anos de Dom Bosco, sendo um claro convite a sairmos em missão, tal como o Papa Francisco nos convida constantemente. Na JMJ`23, a missão era uma das dimensões da mensagem do Papa, que queremos tornar realidade nos nossos ambientes educativos. Deus tem um sonho e uma missão para cada um de nós, para que descubramos a verdadeira felicidade. Avançar no sonho é descobrir este sonho de Deus para nós, que nos impele a uma modo de ser, estar e agir embebidos pelo Seu amor.

 

II. Logótipo

O desenho do logótipo é composto por uma representação, em silhueta, de Nossa Senhora, a Mestra, que aponta o caminho a seguir a Joãozinho Bosco. Com esta representação pretende-se dar grande destaque ao Sonho dos 9 anos de Dom Bosco, uma das principais inspirações do Tema do Ano, no contexto da celebração dos 200 anos.

No interior do desenho, está presente a imagem de um lobo e, ligado a Joãozinho Bosco e a Maria, esse lobo transforma-se na imagem de um cordeiro, elemento simbólico do sonho de João Bosco. Essa representação visual cria um contraste, positivo e negativo, e, no fim, o que se destaca é a imagem Dom Bosco, de Nossa Senhora e do cordeiro, este que nasce do lobo (e que agora é vazio).

A cor predominante do logótipo é uma mistura de tons de azul, que pode ser associada à serenidade, à confiança e à espiritualidade. O azul está, também, relacionado com a devoção mariana, uma vez que Maria é representada junto a João Bosco.

Foram ainda incluídas três estrelas, de cor amarela, que representam o brilho e a transformação sugerida pelo tema pastoral. Por sua vez, o seu desenho arredondado e irregular, recorda-nos as nuvens. Estas combinação de formas, conjugadas com o gradiente azul, também ajudam na criação de um ambiente que nos lembra um céu estrelado, evidenciando, ainda mais, a atmosfera de um sonho no logótipo.

O logótipo “Avançamos no Sonho” combina elementos visuais fortes e significativos para transmitir a mensagem de transformação e de evolução. Este convida à realização da missão de levar o Evangelho e de partir ao encontro dos outros, e, assim como Dom Bosco, guiados por Nossa Senhora, a seguir em frente e a realizar grandes feitos.

 

III. Dimensões do Tema Pastoral

O projeto pastoral expressa-se em quatro dimensões: bíblica, carismática, pedagógica e humana e psicológica.

 

DIMENSÃO BÍBLICA

Na Bíblia encontramos várias personagens a quem Deus Se revela através de sonhos: Jacob (cf. Gn 28, 12; 31,10-11); José do Egito (cf. Gn 37, 5-10); Faraó (cf. Gn 41, 1-8); Salomão (cf. I Re 3, 5-15); José, esposo de Maria (cf. Mt 1, 20 ; 2, 13. 19. 22); Magos (cf. Mt 2, 12).

Maria de Nazaré acolheu a revelação de Deus, que o mensageiro lhe comunicou na anunciação (cf. Lc 1, 26-38). Não sabemos como realmente aconteceu. Sabemos que o Anjo Gabriel anunciou a Maria que ela fora escolhida para ser a Mãe de Jesus. A Maria, pareceu-lhe um sonho! Não esperava, não compreendeu e ficou perplexa. Mas com toda a atenção da fé e docilidade ao Espírito, Maria escutou, questionou, acolheu e, confiando profundamente na mensagem divina, disse “sim” ao sonho de Deus.

Também José, com quem Maria estava desposada, foi envolvido neste plano de Deus. Ao saber da gravidez da sua noiva, ficou confuso e perplexo. Perante a Lei e a confiança que tem na fidelidade de Maria, José não sabe o que fazer. A resposta é-lhe dada por Deus em sonhos. É visitado por um anjo que lhe diz: “José, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo” (Mt 1, 20). Deus sossega e ilumina José quanto ao Mistério Divino que acontecia em Maria. Em sonhos, Deus foi-lhe revelando o caminho a seguir, os passos a dar e as atitudes paternas a tomar.

José acolheu essas manifestações na fé, lendo-as como vontade de Deus e dizendo o seu “ámen” (assim seja feita a sua vontade). Maria, a Mãe de Jesus, confiou na revelação de Deus a José. Saiu! Colocou-se a caminho, abandonando-se nas mãos de Deus e nas de José. Homem de fé e de grande humanidade, deixa-se conduzir pela luz da vontade de Deus revelada em sonhos.

Maria, escolhida e visitada por Deus, reconhecendo-se humilde serva do Senhor, entrega-se totalmente ao sonho que Deus delineou para Ela. Deixou cair todos os seus projetos. Sai de si e vive na atenção à realidade e aos outros. Acolhe os sinais que Deus lhe oferece para corroborar a sua fé; as maravilhas operadas em si e nos outros, porque “a Deus nada é impossível”.  Pobre com os pobres, coloca-se totalmente ao serviço do sonho divino e da caridade. Sai! Vai apressadamente em visita!

Visitada e habitada por Deus, Maria nunca mais deixa de visitar. Vive inteiramente na atenção a Deus e a quem dela possa precisar. Vive silenciosa, discreta e gratuitamente, na profundidade do mistério divino que a possui.

Maria esteve presente na vida pública de Jesus, desde as Bodas de Caná, sempre atenta às pessoas e às circunstâncias. Mais ninguém se deu conta do que ela constatara: “não têm vinho” (Jo 2,3). Não tem pretensões de ser a salvadora da situação, mas, na sua atenção materna, intervém e intercede. Dirige-se Àquele para quem nada é impossível, mesmo sem se aperceber de que a hora de Jesus atuar como verdadeiro Deus ainda não chegara! É ela, como Mãe e discípula, que a antecipa! Sem mágoa, nem qualquer ressentimento, recebe, na fé, as duras e misteriosas palavras de Jesus: “Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora”(Jo 2,4). Parece-lhe um sonho o que vê e ouve! Revisita a ‘primeira Anunciação’ e renova a sua fé: a Deus nada é impossível! Só Ele é Senhor das circuntâncias. Por isso, dirigindo-se aos serventes de Caná e aos de todos  os tempos, emite o seu único e perene  mandato: “Fazei o que Ele vos disser!” (Jo 2, 5)

Estas são as únicas palavras que Maria nos dirige no Evangelho. Fazer a vontade de Deus é a sua vida e o seu testemunho. Viver a Palavra, ao lado de José e do Menino, e, mais tarde, com Jesus e os discípulos. Esta é a grande lição que a torna Mestra de Fé e Mãe da Igreja.

Aos pés da Cruz, na pessoa do discípulo amado, Maria acolheu-nos a todos como filhos, por mandato de Jesus: “Mulher, eis o teu filho!” (Jo, 19,26).  Ao mesmo tempo, entregou-nos Maria: “ Eis a tua Mãe” (Jo, 19,27). 

Depois da Sua presença real na Eucaristia, Maria é a herança mais bela que Jesus nos oferece. A partir da Sua Páscoa, Maria entra na casa da nossa vida como Mãe e Mestra, no caminho para e com Jesus.

Assim foi apresentada por Jesus a Joãozinho Bosco no sonho dos nove anos. No meio da confusão que a visão do sonho lhe causou e da estranheza das personagens e da mensagem, questionou: “Quem sois vós que me ordenais coisas impossíveis…onde adquirir a ciência?” A resposta foi clara: “Dar-te-ei a Mestra sob cuja guia te podes tornar sábio!”.

A partir deste sonho, continuado e explicitado ao longo dos tempos na concretização da vocação e da missão de S. João Bosco, Maria entrou definitivamente no sonho carismático salesiano que Deus inspirou aos nossos fundadores. Como Mãe Auxiliadora, inspirou, guiou e acompanhou toda a vida e obra de S. João Bosco, ao ponto de, no fim da sua vida, com grande comoção e convictamente, testemunhar: Foi Ela quem tudo fez!

 

DIMENSÃO CARISMÁTICA

A vida de João Bosco foi marcada por um sonho que ficou marcado toda a vida no seu coração. Celebramos 200 anos deste sonho. “Nesse sonho todos nascemos, todos estamos”.

O ser humano é, por natureza, aberto à vida, a novos desafios, a novos caminhos. Somos seres em transformação. O ser humano nunca está estagnado, pois estamos sempre em progresso, seja de avanço, seja de recuo. Deus tem para cada um de nós um sonho, um caminho que cada um é convidado a descobrir, a encontrar, a responder e a percorrer. “Todos nascemos originais, mas corremos o risco de todos sermos fotocópias” (B. Carlo Acutis). As nossas impressões digitais recordam-nos, permanentemente, a magnifica originalidade de Deus que nos criou diferentes, únicos e irrepetíveis. No entanto, corremos o risco de querermos ser iguais àquele ou ao outro. Outras vezes queremos ser diferentes porque sim, para chamar a atenção, para ser o centro das atenções. Mas é esse o caminho?

“Queira eu o que Deus quer, e se eu for o que deveria ser, eu incendiaria o mundo inteiro” (S. Catarina de Sena). A nossa vocação é um caminho de descoberta do plano de Deus, e de resposta, adesão e caminho. Se dermos o melhor de nós, se realizarmos a nossa vocação, tudo seria diferente. Avançamos no sonho? Qual sonho?

Deus tem um sonho para cada um de nós! Todos temos talentos, capacidades, oportunidades. “Ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar” (Papa Francisco). “Todo o ser humano tem sempre um ponto sensível ao qual apelar e tocar o coração” (Dom Bosco).

O educador é aquele que ajuda a descobrir o sonho que Deus tem para cada um. O educador é o artista que, ao ver uma grande pedra em bruto, consegue descobrir a grande pietá que dali pode surgir. Ser educador é querer ser escultor, ajudar a tirar na boa medida o desnecessário e valorizar o bom de cada um. Um trabalho delicado, contínuo, personalizado e, por isso, fantástico e privilegiado.

Há um sonho, mas tem de haver caminho, avanço. Não podemos ficar parados, não podemos retroceder. A vida é como é, as coisas são como são, com virtudes e fracassos, mas temos de ir em frente. “Eu sou uma missão” (Papa Francisco).

Dom Bosco ensina-nos essa resiliência, apesar das dificuldades, a não desistir. Avançamos porque confiamos, que Deus nos ama e o que Deus tem reservado para mim é algo maravilhoso, único e especial. Eu, como filho muito amado, tenho, por isso, de caminhar com ele, avançar no sonho. O mundo com o meu contributo, com o meu serviço, será melhor.

A tentação do medo e da imobilidade são sérios riscos para todos nós. Mas, por isso, com Dom Bosco, avançamos no sonho. Precisamos reconhecer o sonho, o meu sonho, o sonho que Deus tem para mim e, a esse sonho, tenho de agarrá-lo e lutar. Esse sonho, se for o sonho de Deus, acolho-o, rezo-o, concretizo-o.

O Sonho dos nove anos, que Dom Bosco teve há 200 anos, recorda-nos que Dom Bosco sonhou connosco. Somos aquelas ovelhas e aqueles lobos. Somos aquele campo. Somos, como João Bosco, chamados a viver com Jesus e Maria no nosso coração.

“Torna-te humilde, forte e robusto”. Este é um lema de vida a propor a todos os jovens das obras salesianas. Foi um lema de vida para João Bosco e pode ser de novo proposto a todos nós que vivemos momentos difíceis. Somos seres em transformação, abertos à vida e conversão permanente. Disse-lhe Nossa Senhora: «Não com pancadas, mas com a mansidão e com a caridade é que deverás conquistar estes teus amigos». A todos os educadores surge o mesmo desafio educativo de proximidade e bem-querer a todos os alunos.

Ao acordar do sonho, Mãe Margarida disse a João Bosco: «Quem sabe se não serás padre?» Avançar no sonho é sermos conscientes da dimensão vocacional de toda a nossa missão. O cume da nossa missão educativa e pastoral é ajudar os jovens a darem o melhor sentido às suas vidas. Interpelar, ajudar a pensar, propor, motivar para que cada um possa descobrir o plano que Deus tem para si na sua singularidade é o maior benefício que podemos oferecer aos nossos destinatários.

Avançamos no sonho. Um sonho que é sempre abrir-se ao serviço, ao descentramento do ego, a deixar para trás egoísmos e a perceber que a vida se realiza e é plena quando nos colocamos ao serviço do outro, da felicidade do outro.

 

DIMENSÃO PEDAGÓGICA

Para a missão de Dom Bosco, os sonhos desempenharam um papel importante. Um deles foi o conhecido “sonho dos 9 anos”, que marcou para sempre a sua vida e o inspirou a criar a obra salesiana em todo o mundo. De facto, este sonho é um dos mais significativos textos carismaticamente deixados por Dom Bosco, narrativamente capaz de explicar a síntese eficaz e eloquente do seu sistema pedagógico e educativo, com uma notória dimensão espiritual e religiosa.

Este sonho marcou o início de uma das histórias mais importantes para a educação e a transformação da vida de milhares de jovens. Trata-se de um sonho que se repete ao longo da vida de Dom Bosco e que enche de significatividade a orientação da sua vida, pela sua origem e natureza transcendente (com Jesus e Maria), e a dimensão ilustrativa da sua missão (transformar animais ferozes em mansos cordeiros), para “ganhar a todos” com a amabilidade e a caridade (método e sistema).

 

  1. Educar no “pátio” de encontros.

Se dúvidas houvesse é nesse “campo espaçoso” feito “pátio de encontros e de vida” onde tudo acontece no sonho e onde cada um pode ser ele mesmo. É o lugar e o espaço da ação educativa salesiana por excelência. Mas é também o lugar do encontro entre os jovens e Deus, e de Deus com os jovens: é o terreno sagrado da encarnação do carisma de Dom Bosco em todos os tempos e em todas as situações.

Há uma multidão de jovens: uns jogam e se alegram, e outros desafiam a ordem com comportamentos negativos. A todos é preciso “ganhar” como amigos. Porque educar é “assunto do coração”. Esta é a primeira missão do educador salesiano: conquistar para vencer. Tornar-se “amigo”, escutar, acompanhar e ganhar a todos, educando e evangelizando. Este é um proceder e um processo que não é um pressuposto adquirido: é algo a conquistar, a desenvolver, a não desistir de realizar. Nalguns casos parece impossível, inútil e desmotivador. Por isso é preciso arriscar e ir para o meio dos destinatários (cordeiros e lobos), colocar-se à “sua frente” liderando processos para os conduzir para o bem. Esta aproximação faz-se com “mansidão e caridade”: é o método salesiano feito sistema de amabilidade, atenção e acompanhamento. Para que o encontro com o educador (João) se transforme também no encontro com Jesus e Maria (Mestre e Mestra, personagens do sonho). Sabendo diferenciar a vulnerabilidade de uns, as competências e potencialidades de todos, e, sobretudo, a riqueza que cada um transporta, por um bem maior, como missão. Procurando formar pessoas equilibradas, conscientes da sua história, das suas capacidades e limites, dos seus laços afetivos, da sua relação com a natureza e da sua união com Deus. Educar com o bem e para o bem. Encontrar, reunir e falar-lhes instruindo-os. Sem sair do pátio. Para que o pátio se transforme num espaço novo de vida: casa que acolhe, paróquia que evangeliza, escola que prepara para a vida, síntese do critério oratoriano salesiano. Um pátio de encontros como habitat educativo e como programa de desenvolvimento e humanização.

 

  1. Educar: “coisas impossíveis” a realizar.

No sonho, Jesus manda João Bosco fazer coisas que lhe parecem “impossíveis”. Sobretudo impossíveis a um miúdo de nove anos. Para tornar realidade todo este processo educativo, sem dúvida exigente para o educador, acreditamos nas potencialidades de todos (“os mansos cordeiros” e os discípulos “animais ferozes”). Imagem de realidade que não deixa lugar a romanticismos educativos: educar exige esforço, capacidade de adaptação, disponibilidade, resposta significativa e ciência.

O “campo onde trabalhar” é árduo, complexo e difícil. Exige humildade, fortaleza e robustez por parte do educador. Exige não desistir, acreditar e dar espaço a todos. Na diversidade que cada um contém (“uma multidão de cabritos, cães, gatos, ursos e outros animais”): todos iguais (porque jovens) e todos diferentes (na personalidade, nos afetos, nas histórias de vida, nas vivências, nas capacidades, nos saberes). Um “campo onde deves trabalhar” que fará a diferença na vida de cada um, que torna possível o impossível. Num ambiente de alegria festiva (“ao redor daquele homem, Jesus, e daquela senhora, Maria).

Para que todos possam tornar-se “mansos cordeiros” é preciso que assim seja, primeiro, o educador. Assim acontecerá o “milagre” da transformação educativa de cada um: porque se sente amado, acolhido e em “casa”, o jovem muda, conquista o bem e torna-se, “honesto cidadão e bom cristão”. E o que parecia impossível, torna-se realidade. Para isso, confiamos no apoio do alto, dos Mestres Jesus e Maria, para tornarmos realidade o que acreditamos como evangelho pedagógico e espiritual.

 

  1. Educar “não com pancadas”.

A primeira estratégia de João, diante das atitudes pouco angelicais dos jovens do sonho é “responder à letra”. Mas não é esta a forma e o estilo que deve ser usado com os jovens para os “conquistar como amigos”. “Não é com pancadas, mas com a mansidão”: com um amor educativo que gosta de ver o jovem feliz, mas ao mesmo tempo um amor paterno/materno: exigente, que quer o melhor e por isso exige esforço, dedicação, motivação profunda para encarar com responsabilidade todos os desafios.

Quem quer ser amado deve demonstrar que ama. É a amabilidade salesiana no seu melhor contexto. Os jovens precisam do elogio, da confiança e do estímulo positivo dos educadores para ganharem espaço de crescimento positivo. Precisam de educadores significativos que saibam fazer a diferença nas suas vidas. Quando é respeitado e estimado, o jovem progride e amadurece. E deixando-se cativar, os jovens deixam-se também desafiar por ideais altos, nobres e árduos.

Educar em tempos de mudança é desafiante, e pede motivação e inovação. Para inovar e motivar um contexto educativo de confiança, somos convidados a ser, como João Bosco, “saltimbancos de esperança”, dando espaço à criatividade, à renovação permanente e ao esforço de acompanhar os tempos e a realidade educativa emergente, com os seus desafios mais prementes, tornando “possível” o “impossível”. É um tornar àquele princípio de Dom Bosco: estar no meio dos jovens, participar, interessar-se por aquilo que o jovem se interessa, por aquilo que o jovem gosta e desde aí introduzir as rotinas de vida, de aprendizagem, de conhecimento, que custam, que exigem esforço e dedicação, não tanto do agrado dos jovens.

 

DIMENSÃO HUMANA E PSICOLÓGICA

O tema pastoral proposto para o próximo ano: “Avançamos no sonho”, coloca-nos em sintonia com a celebração do Bicentenário do Sonho dos 9 anos de São João Bosco e, ao mesmo tempo, desafia-nos a deixar que seja um momento oportuno para o desenvolvimento humano e psicológico de todos os membros das nossas comunidades educativas (educadores, crianças e jovens). O sonho dos 9 anos e as promessas nele deixadas foram o fio condutor da vida de Dom Bosco; um sonho que orientará a sua vida, sempre envolvida pela presença materna de Maria, Mãe, Mestra e Guia da sua obra e do carisma salesiano.

A hagiografia sempre despertou, no âmbito dos estudos psicológicos, um interesse particular pela personalidade de um santo. A personalidade reflete-se nas suas obras, na sua forma de relacionar-se com os outros, na oração e, de modo particular, nos seus escritos autobiográficos, cartas e memórias, fontes privilegiadas para o estudo de uma personagem histórica. Conhecer e aprofundar o sonho de D. Bosco ajuda-nos, portanto, a aceder à sua forma de ser e de viver e a aprender com ele alguns passos concretos de maturação humana.

O tema pastoral motiva-nos a este duplo movimento: avançar e sonhar. Interpela a nossa motivação, a capacidade de agir sobre a própria vida que o educador e o jovem possuem. Neste tempo histórico em que a esperança se vê bastante ameaçada pelos eventos e contextos sociais (consequências psicológicas da Pandemia, guerras, aumento da violência em vários contextos), somos convidados a partir do desejo mais profundo de bem, de belo e de bom que nos habita para, assim, podermos avançar e sonhar. Olhar o positivo que vemos e de que somos capazes é um convite que o verbo “avançar” nos deixa, dando-nos ferramentas para superar aquilo que de mais difícil se atravessa no nosso caminho de maturação.

Sonhar é o segundo convite do Tema Pastoral deste ano. O homem é sonhador por natureza. Sonhar e confiar pressupõe olhar para além das dificuldades da vida. Sonhar é viver e desejar a esperança, é construir um projeto de vida e tornar possível e real o que se sonha.

O sonho e a sua interpretação foram, desde sempre, tema de debate filosófico e indagação psicológica. Sabemos que esta característica humana comporta a manifestação de desejos, emoções e relações conscientes ou inconscientes que fazemos dos factos que nos acontecem diariamente. No caso de Dom Bosco, é óbvia a interpretação teológica que faz dos seus sonhos. No entanto, será inegável compreender que, objetivamente, Joãozinho sonhava com aquilo que a situação social e espiritual o inquietava e interpelava. Na verdade, vai percebendo, através do seus sonhos e respetiva leitura, o seu projeto de vida, aquilo que o faz feliz.

A projeção da vida nasce de um sonho, de um ideal, de uma vontade de caminhar com mais seriedade e verdade, e em viver a própria identidade em diálogo consigo próprio, com os outros e com Deus, que é a fonte e o fim deste projeto. Olhar a existência do ponto de vista de Deus (contemplar), torna a pessoa flexível e capaz de harmonizar profundamente as contradições da vida, permite-lhe passar de um modo de pensar, sentir e agir superficial a um outro mais profundo, universal e verdadeiro, fundado no verdadeiro amor a si mesmo e aos outros.

 

IV. Opções de fundo da Pastoral para 2023-2024:

  • Escutar os jovens e favorecer o protagonismo juvenil nas comunidades educativo- -pastorais.
  • Formação e Celebrações – Fortalecimento da formação cristã e da dimensão espiritual da Comunidade Educativa: a centralidade de Deus; a dimensão carismática salesiana. Celebrar a fé – eucaristia e sacramento da Confissão.
  • Potenciar a dimensão do viver para os outros, no serviço.
  • No atual contexto do mundo e do nosso país – Gestos de solidariedade na atenção preferencial pelos mais pobres e marginalizados; o cuidado e a valorização da Família; realização de parcerias para ações de voluntariado contínuas.
  • Cuidar a Casa Comum e da fraternidade universal, a partir de opções de responsabilidade pessoal e de cultura educativa.
  • Envolver as famílias nas atividades de escola de cariz Pastoral.